18 de junho de 2009

Comentário aos comentários...

Se têm, como eu, o hábito de ler os jornais on-line, certamente se deparam com a situação que agora me traz aqui: todas as notícias permitem que qualquer leitor (minimamente identificado) deixe o seu comentário.
É uma forma legítima de usar a liberdade de expressão.
Uma vez ou outra, atrevo-me a ler os referidos comentários.
E o que noto, com grande tristeza, é que a maioria deles nem sequer se refere à notícia em si; antes representam autênticas destilarias de mau gosto, de raiva, de ódio, quando não formas agressivas de insultar, nomeadamente os outros comentadores.
Por mera curiosidade, fui ler os comentários deixados em jornais on-line eurpeus.
E como é diferente o civismo no resto da Europa!
Pergunto-me - como já alguém fez - se esta constatação não será uma manifestação do nosso atraso e do uso incorrecto de algo de que nos devíamos orgulhar: a liberdade de expressão.
Pergunto-me se estes comentários serão um indicador do estado do país.
Suspeito que sim.
E a minha tristeza amplia-se...

7 comentários:

**Viver a Alma** disse...

Salvé meu amig
tudo é..o estao do país!
Tudo!
a começar pelo povo! - e não... pelos governos sucessivos!
esses não se sentaram nas cadeiras do ilusório "poder" orgulhosamene sós...nem ninguém os pegou ao cólo!

Abraço meu
Sempre
MAriz

Ruvasa disse...

Viva, Tony!

Como o compreendo isto que diz!

Também eu, muitas vezes, leio esses comentários e fico igualmente estarrecido.

O nosso maior problema, já o escrevi milhentas vezes, é, antes de mais, cultural.

E, infelizmente também, não dispomos de uma inteligentzia suficientemente capaz e atractiva para servir de exemplo. Exemplo simples mas eficaz. Comportamental.

As coisas parece virem já, de, pelo menos, finais do século XVI, altura em que, depois de "o cheiro da canela o reino nos ter despovoado", como dizia Sá de Miranda, salvo erro, entrámos no plano inclinado de decadência acelerada, também e principalmente por "rei fraco fazer fraca a forte gente", como garantia Camões.

Na verdade, as nossas elites e chefias intermédias são de uma intelectualidade pobremente franciscana e, deste modo, difícil, muito difícil mesmo, será que a massa saia da vil condição.

Após a minha aposentação, há coisa de dez anos atrás, tem-me sido possível dar um giro anual por esse mundo. Infelizmente e para nossa grande humilhação, tenho cionstatado que o civismo português não fica a perder apenas no confronto com a Europa mais desenvolvida.

Constatei isso mesmo no Báltico, no sudoeste asiático, na América Central e no extreno sul da do sul, no Extremo Oriente e no subcontinente indiano. Mas a constatação maior, a desolação mais profunda, vim a senti-la nos confins mais confins do desértico planalto tibetano. Creia que cheguei a ficar com um tremendo nó na garganta ao defrontar-me com a educação cívica, simples, sem ostentação, e a capacidade solidária que teremos tido mas já não sabemos o que seja, que outros povos conservam intacta, na singeleza do seu quotidiano.

É triste e desconsolador.

Por essa razão - também por essa razão e, mais, principalmente por essa razão - não perdoo às políticas de há três décadas para cá, que não tivessem iniciado a reversão de uma situação que muito nos envergonha.

* * *

Após ter respondido ao seu comentário no meu nlog, tentei enviar-lhe um email com mais informações, que julguei melhor não deixar "em vivo". Debalde! O endereço foi recusado.

Abraço

Ruben

effetus disse...

Amigo Ruben:
Tem razão, eu próprio já tive essa experiência...

Diz um amigo meu, sábio, que o mal deste país, desde os Decobrimentos, não é dos que partiram... É dos que cá ficaram!

E cada dia me convenço mais que ele tem razão!
A única revolução que não foi feita, foi a revolução das mentalidades.
Ainda será possível?
Um abraço.

joao de miranda m. disse...

Bakunin. Esse aí defendia exactamente que as revoluções teriam que ser interiores, baseadas na auto-conhecimento, nos pressupostos da paz e da realidade humana, para a realização integral do homem, mediante a descentralização dos poderes e a aquisição de conhecimentos que levariam em definitivo ao desenvolvimento da humanidade. Pois.

mariam [Maria Martins] disse...

Tony,

pois... também já havia pensado nisto mesmo! porquê comentários tão 'sem pés nem cabeça' e que nada referem sobre as notícias em causa... mas olhe, mesmo nos blogs, por vezes acontece quase o mesmo...
Acho que talvez revelem a falta de espírito democrático, bom-senso e desrespeito por QUEM publica.

deixo-lhe uma mão-cheia de gulosas cerejas e o meu sorriso :)
mariam

nota:já estava com saudades deste 'Universo' tão especial... mas tive alguns problemas informáticos (portanto, nada zangada):)

effetus disse...

Grande amigo João:
Ah... Bakunin... Como me lembro das discussões em Coimbra, em que o nome deste anarquista vinha à baila...
Embora eu nunca tenha navegado nas ondas dele, como tu sabes, acho que aqui "he made his point"!
Um abração nada anárquico, porque devidamente recheado de amizade.

pin gente disse...

eu também me pergunto, tony!
e também reparo... até em simples, e aparentemente inofensivos, blogs se criam celeumas com os comentários. e só pode ser propositado... não há coincidências!

talvez ainda não tenhamos aprendido bem o verdadeiro sentido da palavra liberdade... como ainda não aprendemos o significado de democracia, respeito mútuo...
vejo a liberdade a perder-se nas malhas da libertinagem, a democracia a disfarçar-se nas garras da prepotência, o respeito mútuo a imiscuir-se na opinião alheia...


deixo-te um beijo e vou prepara-me para fazer (também) um post sobre o assunto. merece a pena!