17 de novembro de 2006

O Congresso em play-back.

Nos tempos que correm, já nada nos admira em termos de técnica e de inovação: ele são as televisões de ecrã plano e de cristais líquidos, ele são os gravadores e leitores de DVD, ele são os satélites e as descobertas espaciais, ele são os computadores e a internet, ele são as aplicações robóticas e as energias renováveis, ele são as rábulas dos cómicos nacionais, sei lá que mais…
O Homem tem aprendido a lidar com toda essa inovação, tirando partido da mesma… e arriscando-se até a dela ficar escravo (mas isso são contas de outro rosário…).
Assim sendo, nada já nos causa admiração, nada nos faz abrir a boca de espanto, tudo é (teoricamente) possível.
Na mesma vertente, também já nada nos assombra, quando se fala de política. Agora, quando se mistura política e técnica, é que são elas. Querem ver?

Tudo isto para dizer que acabámos de ver algo que – noutros tempos e noutras perspectivas – nos deixaria boquiabertos: o congresso de um certo e determinado partido que se realizou ali para os lados da cidade capital do gótico (estão a ver qual é?).
Mas - perguntarão - que teve esse congresso de tão extraordinário (ou de tão banal, na sequência do que se vem escrevendo)?
Pois é, poucos notaram, tal era a qualidade da técnica utilizada, mas esse congresso foi todo realizado em play-back. Play-back, sim, aquela coisa de ter o som já gravado e as pessoas apenas mexerem os lábios, para darem a aparência de estarem elas mesmas a falar…
Alguém duvida? A coisa correu tão bem, tão sem incidentes, tão certinha, que a única nota que importará vincar será a enorme sincronização das gravações com os movimentos dos lábios: perfeito! Os intervenientes cumpriram admiravelmente a sua função: o movimento labial batia sempre certinho com as palavras que soavam no sistema de som e até os aplausos eram milimetricamente ajustados…
Mas a coisa não ficou por aí: lembrando aqueles momentos “heróicos” dos tempos da “outra senhora”, ou apenas tentando imitar as ocorrências daquele grande país que fica a norte da Coreia do Sul, eis que a votação final contou com a expressiva percentagem de quase 100% a favor!
Em play-back e com ovação final unânime (obviamente também em play-back…), assim teve lugar um momento alto da nossa política.
E eu a pensar que um congresso era um momento de discussão e de troca de ideias (ou estarei eu a ser maldoso e afinal aquilo mais não foi que a repetição do que os outros fazem?)!
Aliás, acho que vou já é começar a praticar karaoke, para me ir habituando aos novos tempos!

9 comentários:

Kikas disse...

Infelizmente, o Homem deixou de ser um "animal político", rendendo-se ao esvaziamento de ideias e, cumulativamente, recorrendo aos discursos eternamente repetitivos...parabéns pelo "play back" (um texto magnífico").
Beijinho
Kikas

Marsupilami disse...

Estás a falar a sério???
Homessa!!!

Bom, já agora não te esqueças de te inscrever no Fórum da ASJP!
http://www.asjp.eu/forum/

Esperamos por ti!

Abraços e bom trabalho
(esta semana para mim está a ser de morte!)

effetus disse...

Hehehe... Robin: olha que é ironia!
Quanto ao forum, só depois de saber quem o frequenta...
Abraços.

Burlesconi disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Burlesconi disse...

E a votação das moções, cuja contagem foi do tipo "entre 'x' e 'z' votos"...?

Marsupilami disse...

Venho cá só para não dizeres que não te visito, pá!
Mas não há posts novos...

Marsupilami disse...

Inscreve-te no fórum que logo vês quem é que o frequenta. Aliás, está cheio da maioria silenciosa... LOL

joao de miranda m. disse...

Pois é óbvio que era ironia. Trata-se de um dos melhores textos que li ultimamente

effetus disse...

Obrigadíssimo, João!
Saíu-me assim e assim o "postei"...
Abraço.
Cap. Solo.