Quer dinheiro? É só pedir!
Disse um dia um qualquer norte-americano que não podia haver nada de errado num país (o seu) onde os dois maiores problemas eram como emagrecer e onde estacionar o automóvel. A verdade é que o mesmo se dirá de uma série de países, Portugal incluído. E agora sou eu a dizer que não pode haver nada de errado num país, o meu, onde a procura das acções da Galp foi 21 (vinte e uma!) vezes superior à oferta. Como se vê, há gente rica e que quer enriquecer ainda mais no jogo da Bolsa.
E não me venham com estatísticas segundo as quais dois milhões de portugueses vivem no limiar da pobreza! De facto, o que mais há por aí é quem nos ofereça dinheiro. Dantes, dizia-se que os bancos eram como os amigos da onça, que só nos emprestavam um guarda-chuva quando havia sol aberto. Hoje, os bancos gastam milhões em publicidade para nos rogar que, por todos os santinhos, vamos lá pedir-lhes um empréstimo.
Pior ainda, se possível, são as chamadas financiadoras, que nos garantem que, mesmo pelo telefone, sem sequer saber com quem falam, nos enriquecem a conta bancária com uma quantia confortável, "para aquela viagem", "aquele computador", "aquele apartamento". São tudo facilidades, afinal há dinheiro neste país, e ao alcance de qualquer um!
E, terminada a ironia, quem pensa um pouco sabe que apenas num país que vive mal, mas muito mal, é que podem prosperar as entidades que nos oferecem dinheiro quase de mão beijada. Para ilustrar o reverso da medalha, sirvo-me das palavras do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, no dia da sua posse. Cortando a direito, o conselheiro Noronha do Nascimento afirmou que "os agentes económicos instrumentalizam o judiciário para cobrar os seus créditos formigueiros". Porque os tribunais estão inundados de queixas por falta de pagamento da conta do telemóvel, das prestações do "leasing", da mensalidade dos cartões de crédito.
Pelo que é "precisa coragem política", disse ainda Noronha do Nascimento, para tirar dos tribunais o "lixo processual" que vem encravando, e muito, a máquina da justiça. É preciso, acrescento eu, que alguém (quem?) tenha a coragem de convencer os portugueses de que o capital, contra o que parece, não dá nada. Vende -- e vende muito caro!
Sérgio de Andrade, jornalista no JN.
Disse um dia um qualquer norte-americano que não podia haver nada de errado num país (o seu) onde os dois maiores problemas eram como emagrecer e onde estacionar o automóvel. A verdade é que o mesmo se dirá de uma série de países, Portugal incluído. E agora sou eu a dizer que não pode haver nada de errado num país, o meu, onde a procura das acções da Galp foi 21 (vinte e uma!) vezes superior à oferta. Como se vê, há gente rica e que quer enriquecer ainda mais no jogo da Bolsa.
E não me venham com estatísticas segundo as quais dois milhões de portugueses vivem no limiar da pobreza! De facto, o que mais há por aí é quem nos ofereça dinheiro. Dantes, dizia-se que os bancos eram como os amigos da onça, que só nos emprestavam um guarda-chuva quando havia sol aberto. Hoje, os bancos gastam milhões em publicidade para nos rogar que, por todos os santinhos, vamos lá pedir-lhes um empréstimo.
Pior ainda, se possível, são as chamadas financiadoras, que nos garantem que, mesmo pelo telefone, sem sequer saber com quem falam, nos enriquecem a conta bancária com uma quantia confortável, "para aquela viagem", "aquele computador", "aquele apartamento". São tudo facilidades, afinal há dinheiro neste país, e ao alcance de qualquer um!
E, terminada a ironia, quem pensa um pouco sabe que apenas num país que vive mal, mas muito mal, é que podem prosperar as entidades que nos oferecem dinheiro quase de mão beijada. Para ilustrar o reverso da medalha, sirvo-me das palavras do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, no dia da sua posse. Cortando a direito, o conselheiro Noronha do Nascimento afirmou que "os agentes económicos instrumentalizam o judiciário para cobrar os seus créditos formigueiros". Porque os tribunais estão inundados de queixas por falta de pagamento da conta do telemóvel, das prestações do "leasing", da mensalidade dos cartões de crédito.
Pelo que é "precisa coragem política", disse ainda Noronha do Nascimento, para tirar dos tribunais o "lixo processual" que vem encravando, e muito, a máquina da justiça. É preciso, acrescento eu, que alguém (quem?) tenha a coragem de convencer os portugueses de que o capital, contra o que parece, não dá nada. Vende -- e vende muito caro!
Sérgio de Andrade, jornalista no JN.
4 comentários:
Complementando as palavras deste jornalista, eu diria que o crédito não é o "demónio". Pelo contrário, pedir dinheiro a alguém que o tem disponível, a troco de um lucro percentual, é uma das grandes invenções do capitalismo. O "demónio" está em não saber gerir a dívida. Em cair nas ciladas dos créditos fáceis dos bancos que cuidam naturalmente mais dos seus balanços do que dos balanços dos clientes. Para quem empresta, o malparado é uma contingência. Para quem deve, pode ser a espiral da ruína.
Moral da história: dever dinheiro até não é mau. Mas depende do que fazemos com o dinheiro.
Caracteristicas terceiro mundistas deste nosso bem amado Portugal são por um lado os lucros astronómicos da banca em tempo de crise e de aumento de desemprego, por outro lado a proliferação exponencial de empresas "especializadas" em fornecer crédito... por telefone, por SMS, por dá cá aquela palha! O Portugues que se encontra em situação financeira dificil ou tem algum (muito) auto-controlo ou ainda vai ficar pior... e entra na tal espiral que o kikas falou e muito bem.
País de dificil (di)gestão, fica-nos o consolo que há por ai pior... mas isso não chega...
Obrigado, Luís, pelo seu comentário. E estou de acortdo com o que escreveu.
Venha mais vezes!
Um abraço.
Tony.
Por isso é que os processos relativos a "crédito mal parado" deviam ser geridos de outra forma e não entupir de tal modo os tribunais logrando fazer "esquecer" o pobre "Zé" que sofreu um acidente de viação e que está há 10 anos esperando que o processo se resolva.
Por isso aplaudo, com veemência, o discurso de Noronha do Nascimento!
Abraços do Robin
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